sexta-feira, maio 26, 2006

Eras tu e era eu. Sentados, em lugares opostos, trocávamos carinho com o olhar. Aquela sensação de ternura quente por dentro. Até alguém corar, até a intensidade ser tanta que temos de soltar o olhar.
Eras tu e era eu. Numa varanda qualquer a olhar o infinito, a fumar um cigarro e a falar sobre tudo e sobre nada, a estar em silêncio sem o sentir perturbador. Em que nada era tão racional como hoje, em que a amizade permitia a intimidade inocente e leve de quem se conhece bem e apenas isso.
Eras tu e era eu. Num café, a brincar com os guardanapos, a fazer bolinhas e a atirar ao outro, a rir, a falar sobre “como as coisas são hoje em dia”, sobre o futuro imaginado e refutado.
Eras tu e era eu. A perguntar como seria o amanhã depois de um beijo. A questionar o que seria de nós, que sentimentos nos percorriam, o que seríamos nós. E a deixar tudo andar. Sem impor limites, regras ou conversas. A esperar que o tempo avançasse sem restrições para um dia podermos dizer:

Eras tu e era eu. Nunca fomos nós.

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