sábado, janeiro 13, 2007

Hoje apetece-me escrever... Debitar cá para fora o que me inquieta, o que me fascina, o que me entristece, o que me faz ou faria feliz.

Inquietam-me as telenovelas da vida, a forma pouco inteligente como esta sociedade coloca num pedestal a crueldade com tudo o que nos rodeia. Bom, hoje, é o que menospreza os outros, o que consegue mandar a boca mais certeira, aquela que acerta bem lá no fundo e que deixa o outro virado de pantanas. Bom é o que é duro, o melhor sobrevivente, aquele que buzina mais no trânsito, que diz mais palavrões e estica mais o dedo mais comprido de cada mão.

O que faz rir são os vídeos do YouTube de destruição, de humilhação, de degradação do alheio, seja vida, seja objecto. O enforcamento do Saddam. As piadas sobre os emigrantes, sobre os pretos, sobre os judeus, sobre qualquer divisão de uma universalidade como o ser humano.

Olha-se para as notícias de mais um ataque bombista em Bagdad enquanto se come; a tragédia do Darfur é apenas uma designação que já todos nos habituámos a ouvir, mas que não sabemos explicar, porque havendo tantas tragédias por este mundo fora como iríamos pensar sequer em perceber uma que fosse. Não nos interessa. Onde é o Darfur?

Se alguém se sente mal na rua, corre tudo nessa direcção. Para ver o que acontece. Para contar ao que correr para o mesmo sítio a seguir. Para contar aos outros como mais um acontecimento importante que presenciámos. Forma-se um magote em volta da pessoa, não para ajudar, mas para ver melhor. Para atrapalhar quem de facto está a ajudar.

Discute-se com quem quer que seja pelas merdinhas mais pequeninas. Não importa o motivo da discussão, o objectivo é sair dela com a cabeça levantada ciente de que se berrou mais alto, que se apontou mais o dedo e que se deixou a outra pessoa consciente de que não tem razão. Pede-se desculpa com a leveza com que se pede alguém para lhe passar o sal à mesa.

Entre tantas outras coisas...

E parar um pouco e pensar? Não há tempo. Não há tempo para nada. Dizemos nós. E no entanto desperdiçamo-lo assim. E depois? Depois, vai-se mais depressa a um funeral do que a um casamento. E aí pensamos. Naquele momento. Quem sabe nos momentos a seguir também.

"O essencial é invisível aos olhos". Não é apenas uma frase famosa. Devia ser uma frase que nos lembre que o essencial está ao nosso alcance se soubermos cultivar e preservar o que temos de melhor.
Esperar e não exigir. Esperar e simplesmente estar lá. Para o que der, para o que vier.

Lido parece estúpido. Vivido parece um pouco inquietante. O tempo é escasso, todos os sabemos e cada vez melhor.

Saldo negativo, é o que se conclui.

Mas não chegámos ao limiar. Logo, continua-se. Até que a vida nos dê uma razão suficientemente forte para nos mudarmos.

Se chegar a dar...